De 126 casas consultadas em pesquisa do Valor, 62% veem manutenção do juro em 14,75% e 38% projetam elevação de 0,25 ponto
Diante do elevado nível de incertezas nos cenários externo e doméstico e de uma comunicação oficial difusa desde maio, o mercado se mostra dividido sobre o desfecho da decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central desta semana. Com as opções de manutenção da Selic no nível atual ou uma alta residual de 0,25 ponto no juro básico sobre a mesa, não se via tamanha divergência sobre uma reunião desde maio do ano passado — encontro que culminou em uma divergência por 5 a 4 votos dentro do colegiado.
Para aproximadamente 62% das 126 instituições consultadas pelo Valor, o Copom irá manter a Selic nos 14,75% atuais e encerrar o ciclo de aperto monetário iniciado em setembro. Do outro lado, 38% das casas esperam um ajuste residual de 0,25 ponto nos juros, para 15% ao ano. Caso a elevação se concretize, a taxa alcançaria o maior nível desde julho de 2006. A volatilidade nas próprias projeções do mercado se deu de forma relevante e, de maio para cá, casas importantes passaram a incluir em seus cenários um novo aumento da Selic — como Pactual, e ASA. Além disso, apenas uma, a Genoa Capital, espera a continuidade do ciclo de aperto monetário além de junho.
Agora, com o fim do ciclo iminente, a mensagem do colegiado será o fator de maior atenção, à medida que crescem as dúvidas sobre como o BC irá sinalizar que deve deixar os juros parados em nível elevado por um longo período.
Desde a última reunião, a atividade doméstica seguiu exibindo resiliência, e dados do mercado de trabalho levantaram questionamentos sobre a hipótese do Copom de que a economia estaria perdendo tração, ainda que de forma incipiente. Do lado externo, receio sobre uma desaceleração pronunciada da economia global devido à guerra comercial travada pelos Estados Unidos também parecem ter sido amenizados.
Pela ótica mais favorável à manutenção dos juros, o câmbio continuou a mostrar algum alívio, as expectativas de inflação tiveram sua trajetória negativa interrompida e dados de inflação corrente vieram melhores que o esperado.
É com base no conjunto mais recente de dados e na comunicação oficial do colegiado que o Itaú Unibanco manteve a expectativa de que o ciclo será interrompido nesta semana.
“A comunicação era de que o juro seria mantido alto por um período prolongado, mas movimentos poderiam ser ou não de alta, a depender dos dados. E, desde então, vimos um IPCA mais fraco; PMC [varejo] mais fraca; PMS [serviços] em linha com a expectativa, mas que não muda tanto as coisas… Além disso, houve uma apreciação cambial substancial. Os dados corroboram a visão de não aumentar mais os juros e é provável a manutenção de uma comunicação sobre deixar a taxa elevada por bastante tempo”, avalia o superintendente de pesquisa macroeconômica do banco, Fernando Gonçalves.
No período entre reuniões, participantes do mercado notaram alguma volatilidade na comunicação dos membros do Copom. Imediatamente após a decisão de maio, a interpretação majoritária era que a barra para um novo aumento de 0,25 ponto na Selic era alta. Porém, há interpretação entre os agentes financeiros de que houve uma guinada na mensagem dos diretores do BC — além de rumores sobre sinais mais conservadores de membros do Copom em reuniões privadas, conforme apurou o Valor —, o que trouxe a sensação de que o ciclo de aperto poderia prosseguir.
O economista-chefe da Neo Investimentos, Luciano Sobral, avalia que a opção do colegiado pela manutenção da Selic em 14,75% ou por uma alta adicional de 0,25 ponto, neste momento do ciclo, é mero detalhe. “Se simulamos o modelo, a inflação está ao redor de 3% no primeiro trimestre de 2027. Então, ele poderia escolher ficar parado e, na próxima reunião [quando o horizonte relevante estiver no primeiro trimestre de 2027] mostrar a inflação ao redor da meta. Ou ele poderia subir o juro ‘by the book’ [cumprindo o modelo]. Seria uma discussão de detalhe e de preferência marginal.”
Fonte: Valor Econômico